Especial: Os desafios e conquistas das mulheres na construção civil

Mulher na construção civil

Brusque – Mais de 200 mil mulheres brasileiras atuam hoje na construção civil, número que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aumentou 120% entre os anos de 2007 e 2018. Mas, se engana quem pensa que para chegar a este percentual foi fácil. Muito menos simples.

A luta pelo espaço da mulher no setor é histórica, de longa data. Foi no século XIX que pouco a pouco a figura feminina começou a aparecer na construção civil. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu com Emily Warren Roebling, que contribuiu para o término da Ponte do Brooklyn, em Nova York, um dos maiores projetos de engenharia já elaborados mundialmente.

Apesar do exemplo, a presença feminina nos canteiros de obras se disseminou há pouco tempo, conforme a arquiteta Aline Silva, de Balneário Camboriú.

“A força de trabalho da mulher neste mercado ocorreu há poucas décadas, mesmo sabendo que [as mulheres] administram ou executam projetos tão bem quanto os homens”, comenta a profissional, que ressalta: “A diferença, além dos salários, é que hoje ainda há mais homens no mercado da construção civil gerenciando ou administrando obras”, aponta. Isso porque enquanto as mulheres ocupavam cargos distintos, geralmente em outros segmentos, os homens, por sua vez, já se consolidavam na profissão.

Mulheres agora são maioria nas salas de aula

O acesso à educação, inclusive superior, é uma das importantes conquistas desta abertura de mercado. Atualmente, o cenário das salas de aula de graduação já não se assemelha ao que se via a anos atrás. As mulheres, em muitos casos, são a grande parte. “A mulher está em todo o lugar […] é só entrar dentro de uma sala de aula de Arquitetura, por exemplo, e ver: a maioria absoluta é mulher”, afirma a arquiteta Gabriela Radaelli, de Balneário Camboriú.

Com mão de obra especializada disponível no mercado, por que não contratar? Os tijolos já não são assentados pelas mesmas mãos, os projetos deixaram de ter apenas uma visão, as obras começaram a receber uma nova perspectiva.

“Acredito que o mercado já está muito evoluído no que diz respeito a presença da mulher na construção civil”, diz a engenheira civil Maiara Valiati, de Brusque.

Já a engenheira civil Yasmin de Souza Dahlen, também de Brusque, destaca ainda que, embora não seja na totalidade das vezes, as mulheres conseguem, agora, ocupar cargos de chefia dentro da engenharia, diferentemente do que ocorria em outras épocas.

“[…] se formos mais abrangentes no que diz respeito a construção civil, vamos muito além do trabalho dentro da obra. Existem muitas mulheres desenvolvendo projetos, gerenciando obra, entre outros”, aponta.

Quem também reforça este pensamento é a arquiteta Ariane Rosa, de Balneário Camboriú. “A capacidade técnica, força de trabalho e articulação das mulheres na luta por seus direitos estão promovendo progressivas mudanças socioculturais. Isso está impulsionando o progresso feminino no setor. Como resultado, estão surgindo cada vez mais oportunidades de reconhecimento profissional”, diz.

Espaço adquirido, mas preconceito continua

A luta por igualdade no trabalho das arquitetas, engenheiras civis, mestre de obras, designers de interiores, entre outras profissões que envolvem a construção civil, esbarra ainda em um grande abismo: o preconceito.

“Há bastante preconceito no mercado de trabalho. […] Cerca de 27 anos atrás, quando ia para a obra, havia sempre risadinhas. Nesses anos, algumas mudanças ocorreram, mas hoje [a mulher] ainda é tratada com muito receio e preconceito. É mais fácil, por exemplo, o mestre de obras acreditar na palavra do homem do que de uma mulher, um típico caso de preconceito enraizado”, lamenta Aline.

É quase que unanimidade ouvir destas mesmas profissionais algum relato de discriminação da sua capacidade intelectual ou física dentro de um ambiente de obra.

“Posso dizer com toda a certeza de mais de 20 anos de profissão que ainda existe preconceito dos profissionais de construção civil dentro da obra. Eles aguardam um homem para dar respaldo [do projeto]. Ainda bem que na maioria das vezes este homem não existe, e eles têm que acatar o que lhes foi passado [pela mulher]”, explica Gabriela.

A engenheira civil Vanessa Mafra Tabarelli, é uma das exceções, e garante que ela e as sócias nunca passaram ou presenciaram nenhum tipo de preconceito. No entanto, já estão preparadas caso isso aconteça: “Acreditamos que se isso ocorrer é uma questão de tempo para a profissional mostrar o quanto ela é competente para o cargo que está ocupando”, pontua.

Debates no Dia Internacional da Mulher abrem espaço para reflexão

Uma das melhoras maneiras de se combater preconceitos e desigualdades sempre foi o diálogo. Pensando nisso, a arquiteta Ariane Rosa ministrou, na última sexta-feira (6), um workshop com a temática A Importância da Mulher na Construção Civil. O evento foi indicado a todas as mulheres, “pois se trata de uma história de conquistas e superações em uma área predominantemente dominada pelos homens”, explica a profissional.

“Qualquer tema que for debatido começa a ser compreendido e acolhido entre as pessoas. Quanto mais conversas sobre o assunto, mais alternativas aparecem e se consolidam, e mais pessoas se sentem fortes para atuar neste mercado”, diz Aline.

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